99. Que conceito vamos usar para designar o conhecimento que precisamos para “adiar o fim do mundo”?

Renato Dagnino, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP; Carolina Bagattolli, UFPR - Federal University of Paraná

Posted: February 28, 2022
Accepted Languages: Portuguese/Portugués

Vetores disruptivos de natureza ambiental, energética, cultural, de intensa concentração de renda e riqueza, adoecimento físico e psíquico sistêmico, derivados do acirramento das contradições do capitalismo contemporâneo estão gerando uma crescentemente massiva pressão para a modificação no perfil de consumo de bens e serviços.

Em cadeia, há uma pressão pela mudança do perfil de sua produção, dado que, contrariando a ingênua expectativa de muitos, não está ao alcance da empresa, atuando segundo a lógica capitalista privada que lhe é inerente, mudar a forma como produz. Se o fizer, internalizando externalidades ambiental, econômica e socialmente predatórias, será excluída do mercado.

Ganha força, também em cadeia, a consciência de que arranjos econômico-produtivos alternativos, como aqueles que propõem, entre outros movimentos, a Economia do Comum, a Economia de Francisco e, na América Latina, a Economia Social e Solidária, são imprescindíveis para enfrentar esses desafios globais.

Dela deriva uma pressão por uma terceira mudança. Ela leva à noção de que esses arranjos precisam de uma plataforma cognitiva de lançamento distinta da tecnociência usada ou gerada pela empresa, a Tecnociência Capitalista. A qual, como se sabe, abarca tanto as ciências (as exatas, também conhecidas com “duras” ou “desumanas” e as humanas, também conhecidas como “moles” ou “inexatas”), as tecnologias (de ponta ou rombudas, altas ou baixas) e uma infinidade de outros conhecimentos (que vão desde os populares ou empíricos, até os dos povos originários e dos escravizados e os religiosos).

Essa compreensão vem originando, nos países do Norte, algumas “soluções de compromisso”, como as de Inovação Social, Frugal, “grassroot” e Responsável. Do Sul, na América Latina, surgiu a da Tecnologia Social. No âmbito da esquerda brasileira, ganha força um conceito mais radical que denota um questionamento das raízes da neutralidade e do determinismo do conhecimento tecnocientífico, a da Tecnociência Solidária.

O objetivo deste painel é discutir esses desafios, examinar as propostas associadas à essa terceira mudança e os marcos analítico-conceituais que estão sendo elaborados.

Contact: rdagnino@ige.unicamp.br, carolina.bagattolli@gmail.com

Keywords: inovação responsável, tecnologia social, tecnociência



Published: 02/28/2022