“Decolonising the thinking and territorialising the disputes”: A Report from the X ESOCITE Brazil / "Descolonizando o pensamento e territorializando as disputas": Relatório do X ESOCITE Brasil

Mariana Pitta Lima, Débora Allebrandt
12/19/2023 | Report-backs

A versão em portugês está disponível no final do post! 

10th National Symposium on Science, Technology and Society (X Esocite.BR), organised by the Brazilian Association of Social Studies of Science and Technology, was held between 25 and 27 October 2023 in the city of Maceio, state of Alagoas, Brazil. With the main topic "Science in dark times: Decolonising the thinking and territorialising the disputes", and chaired by Prof. Débora Allebrandt, the Symposium took place at the Institute of Social Sciences (ICS) of the Federal University of Alagoas (UFAL). It was the first edition of the meeting that took place in a city located in the Northeast region of Brazil, and the first in-person meeting after four years, due to the COVID-19 pandemic (the 9th edition happened virtually in 2021).

The expression "territorialising disputes", which is part of the meeting's title, makes sense when considering that Brazil is a country of continental dimensions, with profound regional inequalities and diverse socio-cultural, economic, and racial characteristics. The country’s geography also complicates travelling between the different regions. According to Prof. Allebrandt, the meeting in the Northeast region was a milestone and an important step for the wider circulation of the field of STS in Brazil, as it facilitated the participation of people from this region of the country: “As the chair of the meeting, I believe we have succeeded in fulfilling our great motivation in holding the event in Alagoas: to bring our students closer to the STS debate, especially to a debate committed to and engaged with feminism and intersectionality”. The participants were mainly students, researchers and members of social movements involved in STS. A total of 655 people registered for the Symposium, 162 were from Alagoas. This edition had participants from states such as Tocantins, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Sergipe and Bahia.

During the three days, the Brazilian STS field showed to be vibrant and creative. The diversity of subjects was a highlight. The meeting included Panels, Lectures, Workshops, Short Courses, Forums, Book Launches and an Artistic and Cultural program featuring the 1st Mostra Livre Image and Non-Visual Access and the 1st  Mostra Livre Esocite (Esocite Exhibition of Scientific Film and Indigenous Cinema). I had to carefully choose to attend some of them - which is why I will only briefly cover some of the topics discussed. This post aims to give a general presentation of the main topics and to reflect on some of them.

One of the main topics was racial inequalities. X Esocite.BR revealed a tradition of research that engages the intersectional perspective of race, gender, class, feminism (and others), especially led by black scholars in Brazil, demonstrating the importance of considering these factors in our analyses.
 

Professor Ruha Benjamin's talk: Race to the Future? [Image courtesy:Mariana Lima]

Prof. Ruha Benjamin, with a lecture entitled "Race to the Future? Reimagining the Default Settings of Technology & Society", was the keynote speaker. Prof Benjamin highlights that race and technology shape each other and argues that "imagination is a contested field of action". According to her, we need to re-imagine and think creatively to subvert the status quo. The opening panel also addressed the racial dimensions concerning technology and health, with the title "Race, health and technology", coordinated by Prof. Nádia Meinerz (UFAL) and Prof. Gilson Rodrigues Junior (UFRN), and with presentations by Ana Cláudia Rodrigues da Silva (UFPE), Rosana Castro (UERG) and Tatiane Muniz (IFBA).
 
[Image credits : Bruna Teixeira/X Esocite website]

Another prominent topic was environmental concerns. Maceio is a beautiful coastal city in Brazil, known for its beaches and touristic route. Prof. Allebrandt pointed to this aspect that makes the city known, and explained the decision of the X Esocite.BR organisation to draw attention to its aesthetics. The meeting's visual identity featured a series of photo-collages by the Alagoas artist Bruna Teixeira, which highlighted Maceio’s inequalities and especially the biggest urban environmental crime in the world - the sinking of the soil in countless neighbourhoods, caused by the exploitation of salt-gem by the Braskem mining company, which has displaced thousands of people recently in an unjust and unequal manner.
 

[Image credits : Bruna Teixeira/X Esocite website]

The X Esocite.BR organised 26 Working Groups. I was in attendance and presented my research paper in Working Group 07 - STS and Interlocutions in Health. The topics discussed included technologies in abortion care, gender expression in stem cell research and the history of women in tropical medicine in Brazil. 
 

Working Group 07 - STS and Interlocutions in Health[Image courtesy: WG 07]

The expression "decolonisation of thinking", in the title of the meeting, also had a prominent place in the programme. The panel "Counter-colonisation of knowledge: the production of knowledge from urban and quilombola [Afro-Brazilian communities descended from the enslaved population who freed themselves from slavery] territories", with members of the SoFIA program, invited community leaders to compose the round table and speak from their own perspectives, proposing that research participants should also be involved in academic events as protagonists.
 

Counter-colonisation of knowledge: the production of knowledge from urban and quilombola territories [Image credit: Mariana Lima]

To outline the next steps, the closing panel was entitled: “State of the art of Science, Technology, Innovation and Environment policies in Brazil: reconstruction and challenges for the current Lula government”. The panel was coordinated by Sayonara Leal (UnB) and included Lorena Fleury (UFRGS), Marko Monteiro (Unicamp) and Wendell Assis (UFAL).

The X Esocite Brazil addressed several topics in STS and offered fundamental lessons for the field in both Brazil/Latin America, and for STS as a whole. After going through a period of "dark times" characterized by low incentives for research in Brazil, this Symposium provided hope. For me, the main lesson is that as STS scholars we need to keep thinking creatively about ways of undoing inequalities in research, articulating the different forms of knowledge production.

Versão em Português 

O 10º Simpósio Nacional de Ciência, Tecnologia e Sociedade (X Esocite.BR), organizado pela Associação Brasileira de Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia, aconteceu entre os dias 25 e 27 de outubro de 2023 em Maceió, estado de Alagoas, Brasil. Com o tema principal "Ciência em tempos sombrios: Descolonizando o pensamento e territorializando as disputas", e presidido pela Profa. Débora Allebrandt, o Simpósio aconteceu no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Essa foi a primeira edição realizada em uma cidade localizada na região Nordeste do Brasil, e marcou o retorno ao formato presencial após um intervalo de quatro anos, devido à pandemia da COVID-19 (a 9ª edição aconteceu virtualmente em 2021).

A expressão "territorializando disputas" que intitula do encontro, faz sentido quando se considera que o Brasil é um país de dimensões continentais, com profundas desigualdades regionais e características socioculturais, econômicas e raciais diversas. A geografia do país também dificulta o deslocamento entre as diferentes regiões. De acordo com o Prof. Allebrandt, a reunião na região Nordeste foi um marco e um passo importante para a circulação mais ampla do campo CTS no Brasil, pois facilitou a participação de pessoas dessa região do país: "Como coordenadora desse evento, acredito que tenhamos conseguido cumprir nossa grande motivação ao trazer o evento para Alagoas: aproximar nossas estudantes do debate CTS, especialmente de um debate comprometido e engajado a partir do feminismo e da interseccionalidade". Os e as participantes eram principalmente estudantes, pesquisadores e pesquisadoras, movimento social e comunidade local. O evento teve 655 inscritos. Destes, 162 foram de Alagoas. Essa edição contou com participantes de estados como Tocantins, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Sergipe e Bahia.

Durante os três dias, o campo brasileiro de CTS mostrou-se vibrante e criativo. A diversidade de temas foi um destaque. O encontro incluiu mesas redondas, oficinas, minicursos, fóruns, lançamento de livros e uma programação artística e cultural com a 1ª Mostra Livre de Imagem e Acesso Não-Visual e a 1ª Mostra Livre do Filme Científico e Cinema Indígena. Precisei escolher cuidadosamente participar de algumas das várias atividades - e é por isso que abordarei apenas brevemente alguns dos tópicos discutidos. O objetivo desta postagem é fazer uma apresentação geral dos principais tópicos e aprofundar alguns deles.
Um dos principais destaques de discussão foi a desigualdade racial. O X Esocite.BR revelou uma tradição de pesquisa que envolve a perspectiva interseccional de raça, gênero, classe, feminismo (e outros), especialmente liderada por pesquisadores e pesquisadoras negras no Brasil, demonstrando a importância de considerar esses fatores em nossas análises.

Conferência da professora Ruha Benjamin: Race to the Future? [Foto: Mariana Lima]

Prof. Ruha Benjamin, com uma comunicação intitulada "Race to the Future? Reimagining the Default Settings of Technology & Society", realizou uma das conferências principais. Prof. Benjamin destaca que a raça e a tecnologia moldam uma à outra e argumenta que "a imaginação é um campo de ação e contestação". De acordo com a autora, precisamos reimaginar e pensar de formas criativas para subverter o status quo. O painel de abertura também abordou a dimensão racial em relação à tecnologia e à saúde, com o título "Raça, saúde e tecnologia", coordenado pela Profa. Nádia Meinerz (UFAL) e pelo Prof. Gilson Rodrigues Junior (UFRN), e com apresentações de Ana Cláudia Rodrigues da Silva (UFPE), Rosana Castro (UERG) e Tatiane Muniz (IFBA).
 

[Créditos: Bruna Teixeira/X Esocite ]

Outro tópico de destaque foi a questão ambiental. Maceió é uma cidade litorânea no Brasil, conhecida por suas praias e rota turística. A Prof. Allebrandt destacou esse aspecto que torna a cidade conhecida e explicou a decisão da organização do X ESOCITE.BR de chamar a atenção para sua estética. A identidade visual do evento conta com uma série de foto colagens de autoria da artista alagoana Bruna Teixeira, que jogam luz sobre as desigualdades de Maceió e especialmente sobre o maior crime ambiental urbano do mundo – o afundamento do solo de inúmeros bairros, causado pela exploração de sal-gema pela mineradora Brasken. A questão se agravou nas últimas semanas, com impacto em milhares de pessoas, moradoras de bairros afetados que foram desapropriadas, de forma injusta e desigual.
 

[Créditos: Bruna Teixeira/X Esocite website]

O X Esocite.BR reuniu 26 Grupos de Trabalho. Participei e apresentei meu trabalho de tese no Grupo de Trabalho 07 - CTS e Interlocuções na Saúde. Os temas discutidos incluíram tecnologias na atenção ao aborto, expressão de gênero na pesquisa com células-tronco e a história das mulheres no campo da medicina tropical no Brasil.

Grupo de Trabalho 07 - CTS e Interlocuções em Saúde[Créditos: WG 07]

A expressão "descolonizando o pensamento", presente no título do encontro, também teve lugar de destaque na programação. O painel "Contracolonização de saberes: a produção de conhecimento a partir de territórios urbanos e quilombolas", com integrantes do programa SoFIA, convidou líderes comunitárias para compor a mesa redonda e falar a partir de suas próprias perspectivas, propondo que interlocutores e participantes de pesquisas também se envolvessem em eventos acadêmicos como protagonistas.
 

Contracolonização de saberes: a produção de conhecimento a partir de territórios urbanos e quilombolas [Créditos: Mariana Lima]

Para delinear os próximos passos, o painel de encerramento foi intitulado: "Estado da arte das políticas de Ciência, Tecnologia, Inovação e Meio Ambiente no Brasil: reconstrução e desafios para o atual governo Lula". O painel foi coordenado por Sayonara Leal (UnB) e contou com a participação de Lorena Fleury (UFRGS), Marko Monteiro (Unicamp) e Wendell Assis (UFAL).

O X Esocite Brasil abordou os diversos tópicos em CTS e ofereceu lições fundamentais para o campo no Brasil/América Latina e para o CTS como um todo. Depois de passar por um período de "tempos sombrios", caracterizado por baixos incentivos à pesquisa no Brasil, este Simpósio trouxe esperança. Para mim, a principal lição é que, como pesquisadores/as em CTS, precisamos continuar pensando criativamente sobre formas de desfazer as desigualdades na pesquisa e imaginar futuros mais justos, articulando as diferentes formas de produção de conhecimento.

Mariana Pitta Lima is a post-doctoral researcher at CIDACS/Fiocruz working on the LIFE Zika project. She is one of the Assistant Editors in the Backchannels Global South team.

Débora Allebrandt is an adjunct professor at the Federal University of Alagoas. She holds a PhD in Anthropology from the Université de Montréal. She was vice-president of the Brazilian Association of Social Studies of Science and Technology (Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias) Esocite.BR (2021-2023) and is currently a member of the Council. She was the chair of the X ESOCITE Brazil 2023. 

Mariana Pitta Lima é pós-doutoranda no CIDACS/Fiocruz, integrante do projeto LIFE Zika. Ela é uma das editoras assistentes da equipe do Backchannels no Sul Global.
 
Débora Allebrandt é professora adjunta da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). É doutora em Antropologia pela Université de Montréal. Foi vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias - Esocite.BR (2021-2023) e atualmente é membro da presidência. Foi coordenadora do X ESOCITE Brasil 2023.



Published: 12/18/2023